MPF investiga descumprimentos na concessão da Transnordestina após denúncia de 'abandono' da malha em PE
Trecho Salgueiro-Suape da Ferrovia Transnordestina será financiado com
recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
(Divulgação/TLSA)
Inquérito do MPF foi instaurado em 24 de setembro e apura suposta improbidade administrativa
O
Ministério Público Federal (MPF) instaurou inquérito para investigar
descumprimento de contrato de concessão da Ferrovia Nova
Transnordestina, um dos principais projetos de desenvolvimento regional
do país, que é marcado por obras atrasadas e por mudanças que excluíram
trecho da malha em Pernambuco.
A portaria do
MPF, assinada pelo procurador Pedro Jorge do Nascimento Costa, apura
suposta improbidade administrativa e foi publicada em 24 de setembro. A
ação teve origem a partir de representação do Sindicato dos
Trabalhadores em Empresas Ferroviárias do Nordeste (Sindfer-NE),
oferecida um ano antes.
Para o sindicato, a
concessionária Ferrovia Transnordestina Logística SA (FTL), que é
controlada pelo grupo CSN e ficou responsável por explorar a malha
herdada do estado, descumpriu “obrigações contratuais” e deixou de
preservar o patrimônio que já existia. A entidade também acusa a Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do governo federal, de
negligência.
De
acordo com o sindicato, a concessionária recebeu cerca de 1,4 mil
quilômetros de estradas de ferro em Pernambuco, que agora estariam
“abandonados e sujeitos à depredação”. O último trem da malha concedida
teria circulado em outubro de 2011, segundo a representação.
“Há
anos a vegetação e terceiros invadiram a propriedade e ocupam as
estações e pátios”, afirma a entidade. “É notável o caso de
vilipendiamento e dilapidação do patrimônio público.”
Sucata
Nos
autos, o Sindfer-NE afirma que a FTL foi “omissa” e seria responsável
pelo “estado de sucata dos vagões e locomotivas”, além da “destruição
dos imóveis” da rede ferroviária em Pernambuco.
“Quando
a Concessionária assumiu a malha Nordeste, as estações, pátios,
depósitos, dentre outros, estavam em perfeitas condições de uso e
funcionamento”, diz.
Já a concessionária nega
irregularidades, alega falta de provas, diz ter herdado a infraestrutura
já deteriorada e acusa o sindicato de agir com má-fé.
“A
ausência de fundamentação fática e probatória torna os pleitos do
Sindfer-NE meras especulações infundadas, destituídas de qualquer
respaldo jurídico sólido”, afirma, nos autos.
Trecho Salgueiro-Suape
Em
Pernambuco, a Transnordestina Logística S/A (TLSA), empresa que também é
controlada pela CSN e faz parte do mesmo grupo da FTL, ficou
responsável pela construção do trecho da Transnordestina entre
Salgueiro, no Sertão, e o Porto de Suape, no Grande Recife.
Após
consumir R$ 6,2 bilhões só ter 181 dos 542 quilômetros previstos, a
empresa alegou inviabilidade financeira e pediu a exclusão do ramal que
era inicialmente previsto – mantendo apenas as obras até o Porto de
Pecém, no Ceará.
Em 2022, o Tribunal de Contas
da União (TCU) aprovou a exclusão de Pernambuco do projeto, em acórdão
relatado pelo ministro Walton Alencar, decano da Corte. A mudança foi
oficializada em um novo contrato, assinado pela gestão Jair Bolsonaro
(PL), em dezembro de 2022, no apagar das luzes do governo.
O
episódio causou grande repercussão política no estado. Só em abril, já
no governo Lula (PT), um novo edital foi lançado para retomar o trecho
Salgueiro-Suape, com investimento inicial previsto de R$ 450 milhões.
Em
setembro, o governo federal fechou contrato de R$ 15,2 milhões para
elaborar o projeto desse trecho. O acordo foi firmado com o Consórcio
Estratégica–Prosul, composto pelas empresas Estratégica Engenharia Ltda e
Prosul–Projetos, Supervisão e Planejamento Ltda.
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