MPPE aponta que tenentes-coronéis da PM tiveram participação direta em sequência de mortes em Camaragibe
Documento da Gace diz que houve "autorização, mesmo que velada, para a matança que ocorreu"
Um documento do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) revela que dois tenentes-coronéis da Polícia Militar tiveram participação direta no comando de uma série de assassinatos ocorrida em Camaragibe, no Grande Recife, no dia 15 de setembro do ano passado.
Elaborado pelo Grupo de Atuação Conjunta Especial (Gace) do Controle Externo da Atividade Policial, o documento faz parte da decisão da 1ª Promotoria de Justiça Criminal de Camaragibe, enviado à reportagem.
Segundo um trecho do documento, ficou "comprovado que num cenário extremamente hierarquizado como o da Polícia Militar, é de fácil inferência de que, no mínimo, houve uma autorização, mesmo que velada, por parte dos dois tenentes-coroneis para a matança que ocorreu".
Os dois oficiais estão entre os 12 PMs que foram denunciados, na semana passada, pelo MPPE.
Essa denúncia foi aceita pela Justiça pernambucana e, assim, eles se tornaram réus.
Cinco desses PMs envolvidos diretamente vão ficar presos, segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
No entanto, nem Marcos Túlio nem Rufino estão neste grupo. Eles integram a parcela de sete policiais que ganhou direito a responder em liberdade, mediante adoção de medidas cautelares.
Ainda de acordo com o documento do MPPE, os PMs envolvidos sabiam que "não se tratava de uma missão oficial”.
Ainda segundo o relatório, “Nesta empreitada, o ora denunciado Tenente Coronel MARCOS TÚLIO, que ocupava o segundo posto de comando da inteligência da Polícia Militar, convocou o 1° Tente THIAGO AURELIANO, conjuntamente com outros policiais militares, para uma reunião realizada nas proximidades da Faculdade de Odontologia de Pernambuco, onde também estava presente o denunciado Tenente Coronel FÁBIO RUFINO à época Comandante do 20ºBPM”, relatou o documento.
O relatório segue dizendo que a reunião aconteceu com os militares à paisana, com vestimentas normais e usando balaclavas para não serem identificados.
O documento segue dizendo que: “Na ocasião, foram compartilhadas informações a respeito de parentes de ALEX SAMURAI, bem como sobre este, após o que foram então repassadas as instruções e o planejamento da ação homicida entre os presentes na reunião, dentre os quais os acusados Tenente Coronel MARCOS TÚLIO e Tenente Coronel FÁBIO RUFINO”.
O relatório descreve como foi que esta reunião foi convocada pelos tenentes coroneis citados na denúncia.
“Os denunciados Tenente Coronel MARCOS TÚLUO e RUFINO convocaram os denunciados e diversos outros policiais de serviço e de folga, para reunião realizada nas proximidades da FOP, tendo estes sido propositalmente orientados e autorizados a comparecerem ao local em veículos sem placas, viaturas descaracterizadas, com vestimentas à paisana, utilizando balaclavas, fortemente armados, com armas ‘cabrito’ (não oficiais), para realizarem a missão de caçada a ALEX e seus familiares, no intuito de matá-los”, narrou o relatório.
Ainda segundo o documento do MPPE, “Nesse contexto, os denunciados oficiais acima referidos estavam estrategicamente posicionados próximo a cena onde o triplo homicídio ocorria, Tenentes Coroneis MARCOS TÚLIO e FÁBIO RUFINO, e tinham a ciência de que estava acontecendo e do que estava por acontecer, possuindo informações de que havia pessoas sendo mortas por subalternos - como vingança - e ali permaneceram transmitindo, de forma clara e direta, suas anuências com aquelas ações”, disse o documento.
Ainda segundo o relatório, “Nesta empreitada, o ora denunciado Tenente Coronel MARCOS TÚLIO, que ocupava o segundo posto de comando da inteligência da Polícia Militar, convocou o 1° Tente THIAGO AURELIANO, conjuntamente com outros policiais militares, para uma reunião realizada nas proximidades da Faculdade de Odontologia de Pernambuco, onde também estava presente o denunciado Tenente Coronel FÁBIO RUFINO à época Comandante do 20ºBPM”, relatou o documento.
O documento elaborado pelo Gace do MPPE ainda relata como os três irmãos de Alex foram assassinados pelos policiais.
“Assim é que os denunciados FERREIRA DIAS, LEILANE ROCHA JR, DORIVAL, J. OLIVEIRA e THIAGO AURELIANO, já cientes de que ANDERSON passaria pelo local da emboscada em um veículo KA de cor branca, ficaram na espreita na rua São Geraldo, e, ao avistarem o veículo onde além de ANDERSON estava também os seus irmãos ÁGATA e APUYNÃ, obrigaram todos os ocupantes a descer, momento em que os assassinaram, sem dar-lhes qualquer chance de defesa, de forma brutal e covarde”, concluiu o MPPE.
Ainda segundo o relatório do MPPE, além de assassinar as vítimas, os policiais também usaram de tortura psicológica e física contra o motorista do carro de aplicativo que levava os irmãos de Alex que foram executados.
O documento diz que: “Nesse ínterim, os acusados GALDINO e CÉSAR AUGUSTO, por sua vez, permaneceram com o motorista do veículo Uber, Tiago José do Nascimento, e passaram a torturá-lo física e psicologicamente, em conjunto com outros agentes , que chegaram ao local em motos, provavelmente sendo também policiais, ainda não identificados, e passaram a espancá-lo e coagi-lo para que se informasse do paradeiro de Alex, sem sucesso”, diz um trecho do relatório.
A reportagem procurou a PM para saber se a corporação iria se pronunciar sobre o teor dos conteúdos citados pelo relatório do MPPE. Porém, até a última atualização desta matéria, não houve retorno por parte da corporação.
A denúncia
A denúncia do MPPE possui 15 páginas e relata que os acusados, na madrugada do dia 15 de setembro de 2023, “agindo em conjunção de esforços e com unidade de desígnios, mataram as vítimas a tiros, por motivo torpe de vingança, em uma emboscada, o que não deu a elas chance de defesa”.
Entre os policiais denunciados estão:
Fábio Roberto Rufino da Silva
Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco
João Thiago Aureliano Pedrosa Soares
Paulo Henrique Ferreira Dias, Leilane Barbosa Albuquerque
Emanuel de Souza Rocha Júnior
Dorival Alves Cabral Filho
Fábio Júnior de Oliveira Borba
Diego Galdino Gomes
Janecleia Izabel Barbosa da Silva
Eduardo de Araújo Silva
Cesar Augusto da Silva Roseno
Destes, cinco estão presos de forma preventiva: Paulo Henrique, Dorival Alves, Leilane Barbosa, Emanuel e Fábio Júnior.
Os 12 policiais foram denunciados pelos homicídios dos irmãos de Alex da Silva Barbosa: Amerson Juliano da Silva, de 30 anos, Agata Ayanne da Silva, de 30, e Apuynã Lucas da Silva, de 25.
A denúncia do MPPE considera que durante uma abordagem realizada no dia 15 de setembro por policiais militares no bairro de Tabatinga, em Camaragibe, ocorreu um confronto entre os policiais e Alex da Silva, conhecido como Alex Samurai. Na troca de tiros, morreram os PMs Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e Rodolfo José da Silva, de 38.
Neste mesmo dia, Ana Letícia Carias da Silva, de 19 anos, foi baleada após ser feita de escudo durante a ação dos policiais militares. Ela morreu no Imip dias depois. O primo dela, de 14 anos, foi baleado e sobreviveu.
Depois disso, outros policiais começaram a caçar Alex e os parentes dele com o intuito de matá-los como forma de vingança.
Além de matar os irmãos de Alex, os agentes da polícia retiraram a mãe e a esposa dele de casa e as mataram. Os corpos de Maria José Pereira da Silva e Maria Nathália Campelo do Nascimento foram encontrados dentro de um canavial em Paudalho, na Zona da Mata.
Alex foi morto em Tabatinga por volta das 11h do dia 15 de setembro após ter reagido a uma abordagem, segundo a Polícia Militar.
Por: Wilson Maranhão
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