Peeling de fenol: especialistas tiram dúvidas sobre procedimento que causou morte de empresário
Foto: Priscilla Melo/DP
Procedimento voltou a ser assunto nas redes sociais após a morte de um paciente em São Paulo no início do mês
A morte do empresário Henrique Silva Chagas, de 27 anos, no dia 3
de junho, em São Paulo, em decorrência de uma parada cardíaca após a
realização de um procedimento de peeling de fenol aqueceu o debate sobre
a importância de realizar este procedimento apenas com um especialista
na área. A influencer conhecida como Natalia Becker, que realizou o
peeling de fenol no rapaz, não possuía a formação necessária para
aplicar o produto e agora é investigada por homicídio.
Apesar
de ter causado a morte de um paciente, o peeling de fenol é um
procedimento autorizado no Brasil e utilizado para combater o
envelhecimento facial através da redução de rugas profundas e marcas
mais severas. Quando executada corretamente, a técnica atua na produção
de colágeno e reduz significativamente rugas e manchas.
De
acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), quando o
procedimento é feito por um profissional qualificado e seguindo os
cuidados necessários, “os resultados obtidos são incomparáveis a outros
métodos esfoliativos, proporcionando uma renovação intensa da pele,
estimulando a produção de colágeno e reduzindo significativamente rugas e
manchas”.
Ainda segundo a SBD, o peeling de
fenol apresenta riscos e tempo de recuperação prolongado, exigindo
afastamento das atividades habituais por um período estendido. Entre os
riscos do procedimento estão dor intensa, cicatrizes, alterações na
coloração da pele, infecções e até mesmo problemas cardíacos
imprevisíveis, independentemente da concentração, do método de aplicação
e da profundidade atingida na pele.
De acordo
com a médica dermatologista e professora na Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) Fátima de Brito, o uso do peeling de fenol evoluiu ao
longo dos anos e alterações foram feitas neste procedimento estético,
mas isso não significa que os cuidados devem ser menores.
“Existe
o fenol clássico, que é o fenol profundo. Esse peeling deve ser feito
em ambiente hospitalar porque as concentrações e a forma de diluição
atingem camadas profundas. Então, jamais deve ser feito em consultório.
Ao longo do tempo alguns estudiosos foram desenvolvendo essa mesma
fórmula e modificando a quantidade dos químicos, possibilitando o
peeling ser feito em consultórios. Eles são seguros, mas todo
procedimento, mesmo sendo minimamente invasivo, envolve anestésicos,
pois é um procedimento doloroso. E o cuidado existe desde o
pré-anestésico”, explica a dermatologista.
Como funciona o peeling de fenol
O
peeling de fenol é um tratamento estético que consiste na aplicação de
um ácido sobre a pele. Esta substância consegue penetrar em camadas mais
profundas e é indicada para o rejuvenescimento facial e para suavizar
rugas ou linhas de expressão, uma vez que estimula a produção de
colágeno e aumenta a firmeza da pele.
Durante
sua aplicação, o peeling de fenol provoca uma queimadura química na
pele, que resulta em inflamação e descamação, além de estimular a
produção de colágeno. O procedimento deve ser feito em ambiente
hospitalar quando são usadas concentrações maiores do ácido, ou também
pode ser feito no consultório quando o ácido é usado em concentrações
menores e apenas em algumas regiões da face.
“Quando
o profissional vai aplicar o agente químico, ele aplica em uma região
analisada em consultório. Aplica-se em apenas um local por vez, como a
testa. Neste momento, toda a equipe tem que estar de máscara e luvas
porque o fenol é permeável. O paciente coloca colírios para não irritar
os olhos e hidratantes na pele. O profissional deixa o fenol por 15
minutos para que a substância seja absorvida e metabolizada. Neste
período, o paciente deve ser hidratado e ingerir bastante água”,
esclarece a dermatologista Fátima de Brito.
A
profissional ainda destaca que “após finalizar o tratamento, o
profissional faz uma oclusão em todas as partes do rosto com uma máscara
plástica ou com pasta de vaselina, pois a camada atingida pelo peeling
vai cair e tem que estar fechada para evitar infecções e penetração de
outros agentes”.
Este
tipo de peeling é usado principalmente em pacientes que buscam
rejuvenescimento facial, uniformização da pele, eliminação de manchas,
redução da flacidez, eliminação de cicatrizes de acne, suavização de
rugas e linhas de expressão.
Este procedimento
estético é mais intenso e agressivo do que outros peelings e deve ser
feito por um especialista, como dermatologistas ou cirurgiões plásticos.
Para a aplicação do produto, é necessário que o paciente passe por uma
avaliação do estado de saúde e faça monitorização cardíaca durante o
procedimento, uma vez que existe o risco de causar complicações
cardíacas.
Para aplicar o peeling de fenol, são
analisados tanto a idade do paciente quanto a área a ser tratada, o
grau de fotoenvelhecimento, os objetivos com o tratamento, os fatores de
risco de cada pessoa e o fototipo, sendo a pele mais clara a mais
indicada para esse tipo de procedimento.
Antes de ser submetido ao peeling, o paciente deve:
1.
Informar o médico se há algum problema no coração, rim ou fígado e se
já passou por problemas com procedimentos cosméticos anteriores;
2. Realizar exame de sangue e eletrocardiograma;
3.
Não ficar exposto ao sol, aplicar protetor solar diariamente durante
quatro semanas antes de ser submetido ao peeling de fenol. Isso ajuda na
prevenção de pigmentação irregular em áreas a serem tratadas;
4.
Não passar por tratamentos estéticos, como microagulhamento,
carboxiterapia ou até mesmo outros peelings mais brandos, como o ácido
mandélico, por exemplo. Isso evita que a pele fique exposta e apresente
manchas;
5. Evitar uso de lâminas ou ceras para depilação uma
semana antes de ser submetido ao peeling de fenol para não lesionar a
pele e provocar manchas após aplicação do fenol;
6. Evitar esfoliar a pele na semana anterior, para manter a pele íntegra e não apresentar prejuízo após aplicação do ácido.
Contraindicações
O
peeling de fenol é contraindicado para pessoas com problemas em órgãos
como rins e fígado, devido ao alto grau de toxicidade renal ou hepática.
Uma boa parte do produto aplicado na pele é absorvida pelo corpo e,
posteriormente, eliminada pelos rins e fígado. O procedimento estético
também não é indicado para pessoas com peles mais escuras, ou com muita
melanina, e pacientes com problemas cardíacos.
“O
fenol é cardiotóxico e quando cai na circulação sanguínea pode causar
arritmia cardíaca. Então, o peeling deve ser feito em um ambiente
adequado com monitoramento cardíaco e, se o profissional perceber que o
paciente está com arritmia, ele precisa utilizar medicamentos
antiarrítmicos e saber fazer uma reanimação cardiorrespiratória”,
explica o mestre em cirurgia plástica pela Unicamp, Gerson Luiz Julio.
Como é o pós-peeling de fenol
Os
pacientes que são submetidos ao peeling de fenol costumam sofrer com
dores e podem ter que esperar por mais de um ano para que tenham o rosto
cicatrizado por completo. De acordo com a dermatologista Fátima de
Brito, é necessário um acompanhamento rigoroso com o profissional
durante um mês depois da aplicação do produto.
“O
paciente precisa ficar 30 dias recluso, sem compromissos sociais e sem
sessões de fotos, porque é um procedimento que leva a uma vermelhidão
muito intensa e tem um período de recuperação muito lento. Isso porque
ele atinge camadas profundas. É recomendado o uso de protetores e
hidratantes para evitar qualquer complicação, como a pele ficar clara ou
escura demais”, completa a especialista.
Também
é recomendado que o peeling de fenol seja feito durante o inverno para
evitar sol e temperaturas muito altas. Além disso, o frio evita a
dilatação dos vasos. O procedimento pode ser feito em qualquer época do
ano, desde que todos os cuidados sejam tomados.
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