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domingo, 20 de outubro de 2024

OLINDA ONTEM E HOJE

Veja imagens da evolução histórica da cidade do carnaval 

                           Orla de Casa Caiada (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira )

 

A equipe resgatou imagens de meados do século passado e registrou, nesta semana, fotos de alguns pontos da cidade
 
Olinda é uma das cidades mais marcantes do Brasil, conhecida por sua rica cultura, arquitetura colonial e o vibrante carnaval. Desde os anos 1950, a cidade vem passando por significativas mudanças urbanas. As transformações refletem não apenas a evolução estética da cidade, mas as dinâmicas sociais, econômicas e culturais que moldaram a vida dos olindenses. 

As ladeiras repletas de casarões coloridos, a culinária típica e a arte popular, fazem da cidade um verdadeiro museu a céu aberto. A herança cultural, reconhecida pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade, é um dos principais atrativos que continuam a encantar tantos moradores quanto turistas. 

A equipe de reportagem do Diario selecionou algumas imagens do nosso acervo, de meados da segunda metade do século XX, e fotografou os mesmos locais nesta semana, permitindo uma comparação visual das transformações ao longo do tempo. 

Para enriquecer a análise, contamos com a contribuição de Edvania Torres Aguiar Gomes, geógrafa e professora da UFPE, Alexandre Mesquita, professor de pós-graduação em arquitetura urbana, Francisco Cunha, urbanista, e Osvaldo Bruno, historiador, que discutiram a importância de Olinda. Eles também abordaram questões relacionadas ao planejamento urbano e o impacto dessas transformações sobre a população e os locais históricos. 

Impacto dos Planos Diretores e Políticas Habitacionais 

Segundo Edvania Torres, as diretrizes dos novos Planos Diretores, estabelecidos desde a gestão do então prefeito Ubiratan de Castro (1971 à 1973), bem como as políticas habitacionais que elegeram Olinda para a construção das COHABs, principalmente em Rio Doce, tiveram um impacto significativo na dinâmica socioespacial da cidade.  

"A chegada desse novo contingente populacional impactou fortemente na dinâmica socioespacial, com demandas de novos serviços e mudanças nos quarteirões das orlas", afirmou a geógrafa. 

Bancos, restaurantes, clínicas, supermercados e outros serviços se instalaram nas Avenidas Getúlio Vargas e José Augusto Moreira, nas proximidades da Avenida Beira-Mar. O bairro de Casa Caiada, um dos 31 de Olinda, foi afetado pelo crescimento e passou de predominantemente unifamiliar e residencial para uma área de grande verticalização.  

"Esse bairro, que abrigava o Quartel do Exército, passou por um processo de valorização imobiliária até a década de 1990", disse Edvania, que destacou ainda que Casa Caiada é o bairro com o maior IDH do município. 

Francisco Cunha, urbanista, ressaltou que Olinda, até o início do século XX, era predominantemente uma cidade de veraneio e passou por diferentes momentos de decadência e recuperação. "No início do século XX, Olinda parou no tempo, o que permitiu seu tombamento como Patrimônio da Humanidade", afirmou ele, enfatizando a importância da preservação da parte histórica, apesar dos desafios do planejamento urbano. 

Evolução do Século XX até Hoje 
 
Avenida Dom Hélder Câmara (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira
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Avenida Dom Hélder Câmara (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira )
 

Desde a metade do século XX, Olinda passou por um processo de urbanização acelerada. A construção de novas infraestruturas e a ampliação de vias mudaram radicalmente a face da cidade. No entanto, essa modernização nem sempre foi acompanhada por um planejamento urbano eficaz, resultando em desafios para a mobilidade e para a preservação dos locais históricos. 

Edvania Torres frisou que “as orlas de Bairro Novo e Casa Caiada, áreas que antes eram tranquilas e menos habitadas, se tornaram pontos de intensa atividade econômica e social.” 

O historiador Osvaldo Bruno complementou, afirmando que muitos bairros atuais de Olinda, como Jardim Atlântico e Rio Doce, surgiram só a partir dos anos 1970, quando políticas habitacionais trouxeram novas populações para a cidade. "Não houve planejamento urbano porque nos anos 70 a população foi chamada pelo Governo para habitar Olinda. A partir disso, as pessoas começaram a construir sem nenhuma estrutura".  

Mobilidade e Desafios Urbanos 

Com a expansão urbana, a mobilidade em Olinda se tornou um tema de debate. Se por um lado, as novas avenidas facilitaram o acesso, por outro, o aumento do fluxo de pessoas e veículos trouxe problemas para quem precisa se deslocar para trabalhar em outros municípios. A cidade, atualmente, abriga quase 400 mil habitantes. 

O professor e arquiteto Alexandre Mesquita enfatizou a falta de planejamento urbano eficiente ao longo dos anos, especialmente nas áreas mais afastadas da cidade. "A região próxima à divisa com Paulista, onde existem vários conjuntos habitacionais, praticamente se tornou outra cidade, outro bairro", afirmou ele, destacando a necessidade de uma infraestrutura adequada para essa área, que frequentemente envia seus trabalhadores para outras cidades. "Olinda não pode ser apenas um dormitório. É preciso criar empregos e ter uma movimentação urbanística mais correta", alertou. 

Desafios nas Orlas  
 
Orla de Bairro Novo (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira
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Orla de Bairro Novo (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira )
 

Alexandre Mesquita ressaltou o impacto econômico e residencial nas orlas, que passaram por grande crescimento urbanístico. Ele apontou, no entanto, a necessidade de um tratamento mais humano e focado no usuário. "Os equipamentos urbanos precisam de manutenção, e é necessário ampliar as faixas de circulação". 

Já o urbanista Francisco Cunha também mencionou que, nos últimos cem anos, Olinda passou por períodos de recuperação, mas a cidade "terminou crescendo desordenadamente", o que resultou na precariedade do planejamento urbano, especialmente nas áreas litorâneas.  

As orlas, conforme explicou o historiador Osvaldo Bruno, "teve algumas mudanças nos anos 70 e 80 por causa do avanço do mar", mas as obras de restauração continuam insuficientes para resolver os problemas causados pela erosão. 

De acordo com a geógrafa Edivania, até o início do século XX, as áreas compreendidas pela Orla de Olinda eram ocupadas por residências unifamiliares e destinadas principalmente ao veraneio. Segundo ela, a prefeitura sancionou, em 1906, a Lei nº 207, que visava estimular a edificação e o povoamento da orla, mas apenas a partir da década de 1970 é que houve um crescimento imobiliário significativo. "De 1950 para 1970, a população de Olinda saltou de 62.435 para 196.152 pessoas", enfatizou. 

O Plano Diretor de 2004 consolidou a verticalização na região, permitindo que edifícios de até 25 pavimentos fossem erguidos na Zona de Verticalização Elevada (ZVE). No entanto, a geógrafa pontuou que Olinda ainda carece de políticas eficazes para controlar o processo de verticalização em meio às mudanças climáticas. "A cidade, que sempre esteve à frente em termos de serviços urbanos, hoje sofre com a falta de um urbanismo à altura de sua história e paisagem", concluiu. 
 
Mudanças nas Avenidas 
 
A geógrafa abordou as mudanças na Avenida Dom Helder Câmara, relembrando que o acesso a Olinda se dava por bondes cujos trilhos foram assentados em aterros nos manguezais existentes à época.

"Hoje, quem passa pelo Complexo Viário que se delineia com o Espaço Ciência, o Memorial Arcoverde, a Escola de Aprendizes Marinheiros, o Centro de Convenções e o Shopping Tacaruna, não imagina que até 1906 só existia a Usina Bulhões, posteriormente Fábrica Tacaruna, hoje em ruínas", comentou.

"Além disso, a Avenida Dom Helder Câmara conta com vestígios de antigas intervenções, como as passarelas erguidas na década de 1990, que hoje estão em ruínas", acrescentou.

Mercado Eufrásio Barbosa
 
Mercado Eufrásio Barbosa (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira
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Mercado Eufrásio Barbosa (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira )
 
 
O Mercado Eufrásio Barbosa, que já foi um centro vital de comércio local, também enfrentou mudanças significativas em sua estrutura e função ao longo das décadas. 

O Mercado Eufrásio Barbosa, após uma completa requalificação estrutural, foi transformado em um grande Centro de Cultura Popular, inaugurado em 2018. O espaço de 6 mil metros quadrados conta com salas de exposição permanentes e temporárias, além de locais para oficinas, feiras e um novo teatro, além de lojas e restaurantes. O Museu do Mamulengo – Espaço Tiridá foi trazido da Cidade Alta para o Mercado, ocupando duas salas no local. 

Igreja Nossa Senhora das Graças 
 
Seminário de Olinda e Igreja Nossa Senhora das Graças (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira
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Seminário de Olinda e Igreja Nossa Senhora das Graças (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira )
 
 
A Igreja de Nossa Senhora da Graça, em Olinda, foi construída em 1551 por Duarte Coelho Pereira, fidalgo português e donatário da capitania de Pernambuco. Coelho, que havia fundado uma igreja semelhante em Malaca, construiu esta em Olinda para promover a catequese indígena com a ajuda dos jesuítas.  

A igreja passou por várias ampliações, como as lideradas pelo padre Luiz Grã e pelo arquiteto jesuíta Francisco Dias, tornando-se um importante centro de educação e catequese. 

Durante a invasão holandesa em 1630, Olinda foi devastada, mas a Igreja da Graça sofreu poucos danos. Restaurada após a expulsão dos holandeses, o local se tornou um seminário após a expulsão dos jesuítas em 1759, por ordem do Marquês de Pombal.  

Com características rústicas e maneiristas, a igreja influenciou a arquitetura religiosa da região e de outras partes do mundo, como Malaca.
 
Por: Malu Mendes
 

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