Veja imagens da evolução histórica da cidade do carnaval
Orla de Casa Caiada (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira
)
A equipe resgatou imagens de meados do século passado e registrou, nesta semana, fotos de alguns pontos da cidade
Olinda é uma das cidades mais marcantes
do Brasil, conhecida por sua rica cultura, arquitetura colonial e o
vibrante carnaval. Desde os anos 1950, a cidade vem passando por
significativas mudanças urbanas. As transformações refletem não apenas a
evolução estética da cidade, mas as dinâmicas sociais, econômicas e
culturais que moldaram a vida dos olindenses.
As
ladeiras repletas de casarões coloridos, a culinária típica e a arte
popular, fazem da cidade um verdadeiro museu a céu aberto. A herança
cultural, reconhecida pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade,
é um dos principais atrativos que continuam a encantar tantos moradores
quanto turistas.
A equipe de reportagem do Diario
selecionou algumas imagens do nosso acervo, de meados da segunda metade
do século XX, e fotografou os mesmos locais nesta semana, permitindo
uma comparação visual das transformações ao longo do tempo.
Para
enriquecer a análise, contamos com a contribuição de Edvania Torres
Aguiar Gomes, geógrafa e professora da UFPE, Alexandre Mesquita,
professor de pós-graduação em arquitetura urbana, Francisco Cunha,
urbanista, e Osvaldo Bruno, historiador, que discutiram a importância de
Olinda. Eles também abordaram questões relacionadas ao planejamento
urbano e o impacto dessas transformações sobre a população e os locais
históricos.
Impacto dos Planos Diretores e Políticas Habitacionais
Segundo
Edvania Torres, as diretrizes dos novos Planos Diretores, estabelecidos
desde a gestão do então prefeito Ubiratan de Castro (1971 à 1973), bem
como as políticas habitacionais que elegeram Olinda para a construção
das COHABs, principalmente em Rio Doce, tiveram um impacto significativo
na dinâmica socioespacial da cidade.
"A
chegada desse novo contingente populacional impactou fortemente na
dinâmica socioespacial, com demandas de novos serviços e mudanças nos
quarteirões das orlas", afirmou a geógrafa.
Bancos,
restaurantes, clínicas, supermercados e outros serviços se instalaram
nas Avenidas Getúlio Vargas e José Augusto Moreira, nas proximidades da
Avenida Beira-Mar. O bairro de Casa Caiada, um dos 31 de Olinda, foi
afetado pelo crescimento e passou de predominantemente unifamiliar e
residencial para uma área de grande verticalização.
"Esse bairro, que abrigava o Quartel do Exército, passou por um processo de valorização imobiliária até a década de 1990", disse Edvania, que destacou ainda que Casa Caiada é o bairro com o maior IDH do município.
Francisco
Cunha, urbanista, ressaltou que Olinda, até o início do século XX, era
predominantemente uma cidade de veraneio e passou por diferentes
momentos de decadência e recuperação. "No início do século XX, Olinda parou no tempo, o que permitiu seu tombamento como Patrimônio da Humanidade", afirmou ele, enfatizando a importância da preservação da parte histórica, apesar dos desafios do planejamento urbano.
Evolução do Século XX até Hoje
Avenida Dom Hélder Câmara (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira ) |
Desde
a metade do século XX, Olinda passou por um processo de urbanização
acelerada. A construção de novas infraestruturas e a ampliação de vias
mudaram radicalmente a face da cidade. No entanto, essa modernização nem
sempre foi acompanhada por um planejamento urbano eficaz, resultando em
desafios para a mobilidade e para a preservação dos locais históricos.
Edvania
Torres frisou que “as orlas de Bairro Novo e Casa Caiada, áreas que
antes eram tranquilas e menos habitadas, se tornaram pontos de intensa
atividade econômica e social.”
O
historiador Osvaldo Bruno complementou, afirmando que muitos bairros
atuais de Olinda, como Jardim Atlântico e Rio Doce, surgiram só a partir
dos anos 1970, quando políticas habitacionais trouxeram novas
populações para a cidade. "Não houve planejamento urbano porque nos
anos 70 a população foi chamada pelo Governo para habitar Olinda. A
partir disso, as pessoas começaram a construir sem nenhuma estrutura".
Mobilidade e Desafios Urbanos
Com
a expansão urbana, a mobilidade em Olinda se tornou um tema de debate.
Se por um lado, as novas avenidas facilitaram o acesso, por outro, o
aumento do fluxo de pessoas e veículos trouxe problemas para quem
precisa se deslocar para trabalhar em outros municípios. A cidade,
atualmente, abriga quase 400 mil habitantes.
O
professor e arquiteto Alexandre Mesquita enfatizou a falta de
planejamento urbano eficiente ao longo dos anos, especialmente nas áreas
mais afastadas da cidade. "A região próxima à divisa com Paulista,
onde existem vários conjuntos habitacionais, praticamente se tornou
outra cidade, outro bairro", afirmou ele, destacando a necessidade
de uma infraestrutura adequada para essa área, que frequentemente envia
seus trabalhadores para outras cidades. "Olinda não pode ser apenas um dormitório. É preciso criar empregos e ter uma movimentação urbanística mais correta", alertou.
Desafios nas Orlas
Orla de Bairro Novo (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira ) |
Alexandre
Mesquita ressaltou o impacto econômico e residencial nas orlas, que
passaram por grande crescimento urbanístico. Ele apontou, no entanto, a
necessidade de um tratamento mais humano e focado no usuário. "Os equipamentos urbanos precisam de manutenção, e é necessário ampliar as faixas de circulação".
Já
o urbanista Francisco Cunha também mencionou que, nos últimos cem anos,
Olinda passou por períodos de recuperação, mas a cidade "terminou crescendo desordenadamente", o que resultou na precariedade do planejamento urbano, especialmente nas áreas litorâneas.
As orlas, conforme explicou o historiador Osvaldo Bruno, "teve algumas mudanças nos anos 70 e 80 por causa do avanço do mar", mas as obras de restauração continuam insuficientes para resolver os problemas causados pela erosão.
De
acordo com a geógrafa Edivania, até o início do século XX, as áreas
compreendidas pela Orla de Olinda eram ocupadas por residências
unifamiliares e destinadas principalmente ao veraneio. Segundo ela, a
prefeitura sancionou, em 1906, a Lei nº 207, que visava estimular a
edificação e o povoamento da orla, mas apenas a partir da década de 1970
é que houve um crescimento imobiliário significativo. "De 1950 para 1970, a população de Olinda saltou de 62.435 para 196.152 pessoas", enfatizou.
O
Plano Diretor de 2004 consolidou a verticalização na região, permitindo
que edifícios de até 25 pavimentos fossem erguidos na Zona de
Verticalização Elevada (ZVE). No entanto, a geógrafa pontuou que Olinda
ainda carece de políticas eficazes para controlar o processo de
verticalização em meio às mudanças climáticas. "A cidade, que sempre
esteve à frente em termos de serviços urbanos, hoje sofre com a falta
de um urbanismo à altura de sua história e paisagem", concluiu.
Mudanças nas Avenidas
A
geógrafa abordou as mudanças na Avenida Dom Helder Câmara, relembrando
que o acesso a Olinda se dava por bondes cujos trilhos foram assentados
em aterros nos manguezais existentes à época.
"Hoje,
quem passa pelo Complexo Viário que se delineia com o Espaço Ciência, o
Memorial Arcoverde, a Escola de Aprendizes Marinheiros, o Centro de
Convenções e o Shopping Tacaruna, não imagina que até 1906 só existia a
Usina Bulhões, posteriormente Fábrica Tacaruna, hoje em ruínas",
comentou.
"Além disso, a Avenida Dom Helder
Câmara conta com vestígios de antigas intervenções, como as passarelas
erguidas na década de 1990, que hoje estão em ruínas", acrescentou.
Mercado Eufrásio Barbosa
Mercado Eufrásio Barbosa (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira ) |
O
Mercado Eufrásio Barbosa, que já foi um centro vital de comércio local,
também enfrentou mudanças significativas em sua estrutura e função ao
longo das décadas.
O
Mercado Eufrásio Barbosa, após uma completa requalificação estrutural,
foi transformado em um grande Centro de Cultura Popular, inaugurado em
2018. O espaço de 6 mil metros quadrados conta com salas de exposição
permanentes e temporárias, além de locais para oficinas, feiras e um
novo teatro, além de lojas e restaurantes. O Museu do Mamulengo – Espaço
Tiridá foi trazido da Cidade Alta para o Mercado, ocupando duas salas
no local.
Igreja Nossa Senhora das Graças
Seminário de Olinda e Igreja Nossa Senhora das Graças (Foto: Arquivo DP/Reprodução/Rafael Vieira ) |
A
Igreja de Nossa Senhora da Graça, em Olinda, foi construída em 1551 por
Duarte Coelho Pereira, fidalgo português e donatário da capitania de
Pernambuco. Coelho, que havia fundado uma igreja semelhante em Malaca,
construiu esta em Olinda para promover a catequese indígena com a ajuda
dos jesuítas.
A
igreja passou por várias ampliações, como as lideradas pelo padre Luiz
Grã e pelo arquiteto jesuíta Francisco Dias, tornando-se um importante
centro de educação e catequese.
Durante
a invasão holandesa em 1630, Olinda foi devastada, mas a Igreja da
Graça sofreu poucos danos. Restaurada após a expulsão dos holandeses, o
local se tornou um seminário após a expulsão dos jesuítas em 1759, por
ordem do Marquês de Pombal.
Com
características rústicas e maneiristas, a igreja influenciou a
arquitetura religiosa da região e de outras partes do mundo, como
Malaca.
Por: Malu Mendes
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