Proposta da SAF do Náutico prevê aporte de R$ 10 milhões ainda em 2025 e reduz valor de dívidas; veja
Confira detalhes da proposta vinculante, de 17 páginas, à qual o ge obteve acesso com exclusividade
Desde o último dia 28, o Náutico tem em mãos a proposta vinculante feita pelo chamado Consórcio Timbu, que pretende adquirir 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol.
Será a proposta vinculante que será colocada em votação no Conselho Deliberativo, em data ainda a ser marcada, e, caso avance, também pela Assembleia Geral dos Sócios.
Proposta vinculante do Náutico — Foto: Reprodução
No documento, de 17 páginas, o único valor apresentado é o de R$ 400 milhões, que se refere ao orçamento mínimo para o futebol alvirrubro ao longo de dez anos e que serão captados via "aportes financeiros, recursos do mercado financeiro, e reinvestimento de receitas de qualquer espécie a serem futuramente aferidas pelo Náutico SAF".Não se faz referência à possibilidade dos investimentos ultrapassarem R$ 1 bilhão, como foi dito pelo presidente Bruno Becker, no anúncio oficial.
Além disso, a proposta vinculante cita um aporte inicial de R$ 10 milhões a ser feito ainda em 2025, caso a proposta seja aprovada no Conselho Deliberativo, como um "empréstimo-ponte" que futuramente será descontado do valor total de R$ 400 milhões ou devolvido ao Consórcio.
Apesar do Consórcio Timbu contar com a presença de Tiago Ribeiro, que esteve presente na apresentação do projeto ao Conselho Deliberativo e será um dos investidores, e também com o pentacampeão mundial Cafu, que será um dos sócios, a proposta vinculante apresentada ao Náutico é assinada apenas pelo ex-jogador Fransérgio Bastos, que também atuará como investidor e não esteve presente à apresentação aos conselheiros por problemas de saúde.
Já a Vex Capital, apresentada como "gestora especializada em negócios no mercado de capitais e financeiro", e que atuará na captação de recurso para a SAF, não é citada na proposta vinculante.
Outro nome ausente é da Reeve, empresa que atuaria como parceira do Consórcio Timbu para viabilizar as reformas de uma possível modernização ou reconstrução dos Aflitos. O valor estimado de R$ 350 milhões, apresentado da reunião do Conselho, também não é citado na proposta vinculante, que fala apenas no "comprometimento da busca por parceiros".
O documento enviado ao Executivo, no entanto, destaca que o "investimento para um projeto imobiliário de grande porte no Estádio Eládio de Barros Carvalho" não faz parte do orçamento geral mínimo de R$ 400 milhões.
Por outro lado, as obras de reforma dos vestiários, melhoria do gramado e drenagem (dentro de um ano) e a substituição do sistema de iluminação e a construção de camarotes (em dois anos) estão dentro do escopo dos R$ 400 milhões, já que não dependem de parceiros para serem realizadas.
Futebol
Com relação ao orçamento mínimo de R$ 400 milhões a serem utilizados no futebol profissional, de base, feminino e no futsal do clube, a proposta vinculante destaca que esse valor será captado via "aportes financeiros, recursos do mercado financeiro, e reinvestimento de receitas de qualquer espécie a serem futuramente aferidas pelo Náutico SAF". Nesse último item servem como exemplos, cotas de televisionamento, patrocínios, naming rights, premiações e venda de jogadores.
Não há, no entanto, detalhamento de qual será o orçamento mínimo dedicado ao futebol por temporada, nem gatilhos para o aumento no valor a ser investido em caso de acesso de divisão no Campeonato Brasileiro. Obrigações como ter "a maior folha da Série C" ou uma das "cinco maiores da Série B", que chegaram a serem cogitadas, também ficaram de fora da proposta vinculante.
Há uma cláusula onde consta que, em caso da aprovação da proposta no Conselho Deliberativo, os investidores ficam obrigados a realizar um "empréstimo-ponte" de R$ 10 milhões, ainda em 2025. Esse valor deverá, em comum acordo entre SAF e associação, ser utilizado prioritariamente para "aportes na recuperação judicial, no reforço do elenco profissional do futebol, além de melhorias imediatas no CT WIlson Campos e nos Aflitos."
Ainda de acordo com a proposta vinculante, esse "empréstimo-ponte" será computado dentro do orçamento mínimo de R$ 400 milhões ou será devolvido, com correção, caso a implementação da SAF não se concretize.
Os objetivos do Consórcio Timbu, apresentados ao Conselho Deliberativo, de colocar o Náutico na Série A até 2029, de figurar entre os cinco clubes nordestinos mais bem colocados no Ranking da CBF (hoje é o 10º), ou de ser um dos 20 maiores clubes em categorias de base no Brasil, não aparecem na proposta vinculante.
Dívidas
Apesar de apresentar para os conselheiros do Náutico uma dívida total do clube (trabalhista e tributária) de R$ 283 milhões, na proposta vinculante os integrantes do Consórcio Timbu consideraram pagar um endividamento líquido de R$ 46,525 milhões, um valor seis vezes inferior.
Ainda de acordo a proposta, o Consórcio Timbu admite assumir a dívida dentro de uma margem de flexibilização de até 10% acima do valor de R$ 46,525 milhões. Sob o risco de desfazer o negócio, sem prejuízo de multa ou indenização, caso o valor líquido total ultrapasse essa margem percentual.
Já caso um possível excedente do passivo esteja dentro da margem dos 10%, esse valor será descontado do total de investimento de R$ 400 milhões, assim com o valor original considerado da dívida, de R$ 46,525 milhões.
Além disso, todo o dinheiro do clube, proveniente da multa pela quebra de contrato da Arena de Pernambuco, no valor hoje calculado em R$ 27 milhões, deve ser utilizado também para o pagamento das dívidas, sejam elas abarcadas pela Recuperação Judicial ou tributárias.
Centro de Treinamento
Com relação ao Centro de Treinamento Wilson Campos, pela proposta vinculante, 47,48 hectares do local passam a ser de propriedade da SAF, restando ao Náutico, enquanto associação, 8 hectares já denominado como "área operacional do CT".
No entanto, essa área de 8 hectares será dada como garantia à SAF caso, após a concretização da operação,
"não se verificarem as premissas e ocorrer evento financeiro relevante e desproporcional em desfavor do Consórcio", que serão detalhadas no contrato a ser assinado futuramente pelas partes.
Em contrapartida, para utilizar a "área operacional do CT", o Consórcio Timbu pagará ao clube "um valor modesto a título de royalties" para a garantia mínima da manutenção das atividades não envolvidas na negociação da SAF. Pagamento esse que os investidores deixaram claro não concordar na redação da proposta vinculante: "o referido uso não deveria ter uma contrapartida financeira imediata, ainda mais se considerarmos a melhorias que serão implementadas", diz um trecho do documento.
Entre essas melhorias previstas na proposta vinculante (e que também estão dentro do orçamento de R$ 400 milhões) estão a reforma/construção de quatro campos oficiais, além da adequação de um dos campos para receber jogos da base (com vestiário, sala de imprensa, mini arquibancada e duas cabines de transmissão), construção de um alojamento para a base, expansão da academia e reforma das instalações físicas já existentes, incluindo hotel, auditório e refeitório.
Punições
Também consta na proposta vinculante possíveis sanções aos investidores caso, ao final do décimo ano da assinatura do contrato, não se cumpra o investimento mínimo de R$ 400 milhões.
Se isso acontecer, o Consórcio Timbu perderá para a associação, em ações da SAF, o percentual equivalente à proporção não investida. De início, essa divisão é de 90% e 10%, respectivamente.
Além disso, a SAF se compromete a não exceder o limite de endividamento equivalente a três vezes sua receita anual, caso o clube esteja na Série C, de 2,5 caso o Náutico esteja na Série B, e de duas vezes sua receita anual, na hipótese de retornar à Série A.
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