Delator executado no Aeroporto de Guarulhos era suspeito de lavar R$ 80 milhões do PCC em imóveis, lanchas e helicóptero
MIGUEL SCHINCARIOL/AFP
O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos, foi executado com dez tiros de fuzil ao desembarcar em São Paulo
O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos, que foi
executado com dez tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, na Grande
São Paulo, era investigado por lavar R$ 80 milhões da organização
criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio da compra de 40
imóveis, helicóptero e lanchas.
A
informação consta em relatório final do Departamento Estadual de
Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo,
apresentado em novembro de 2022. O documento oficial foi obtido com
exclusividade pelo Diario de Pernambuco.
Gritzbach
também era suspeito de envolvimento na morte de duas lideranças do PCC e
passou a ser considerado inimigo da facção criminosa. Denunciado pelo
Ministério Público de São Paulo (MPSP), ele havia fechado recentemente
um acordo de delação premiada e já sofria com histórico de ameaças.
O empresário foi assassinado em um atentado na saída do Terminal 2 do
aeroporto, às 16h07 de sexta-feira (8). Atingido por uma bala perdida
nas costas, o motorista de aplicativo Celso Araujo Sampaio de Novais, de
41, também morreu. Outras duas pessoas ficaram feridas.
Lavagem
A
investigação do Deic afirma que Gritzbach, então corretor de imóveis e
proprietário de empresas do ramo imobiliário, foi cooptado por
integrantes do PCC para ocultar bens adquiridos com o tráfico de drogas.
Ele atuava principalmente no Anália Franco, bairro rico da zona leste
da capital paulista.
Segundo a
Polícia Civil, o empresário usava familiares como laranjas nos contratos
imobiliários. Alguns pagamentos também eram realizados em dinheiro
vivo, com cédulas sendo transportadas em sacolas plásticas e por pessoas
desconhecidas.
“Foram
identificados 40 imóveis ‘alaranjados’ ou que foram adquiridos para fins
de lavagem de dinheiro e ocultação de bens”, afirma o delegado Rafael
Augusto Ferreira Cocito, no documento.
Os
outros bens “adquiridos de mesma forma espúria” eram um helicóptero
Eurocopter Deutschland, ano 2001, e duas lanchas: uma Cimitarra 64, de
2017, e outra Motorboat, fabricada em 2011. À Justiça, a polícia pediu o
sequestro de R$ 80 milhões dos envolvidos.
Entre
os “clientes” do empresário, estavam Anselmo Becheli Santa Fausta, o
Cara Preta, e Cláudio Marcos de Almeida, o Django, ex-líderes do PCC que
foram assassinados. Há suspeita de que os crimes tenham sido
encomendados por Gritzbach por “desavenças financeiras”.
Na denúncia do caso, também obtida pelo Diario,
o MPSP afirma que Gritzbach usou o próprio tio para registrar imóveis
de luxo na Riviera de São Lourenço, em Bertioga, no litoral paulista,
adquiridos por mais de R$ 2 milhões, cada.
O verdadeiro comprador dos bens, no entanto, seria Django, de acordo com a promotoria.
Ataque no aeroporto
Na
delação, Gritzbach admitiu lavar dinheiro da facção, mas negou
envolvimento nos homicídios de Cara Preta e Django. Jurado de morte pelo
PCC, o empresário foi vítima de uma emboscada no Aeroporto de Guarulhos
ao retornar de uma viagem a Maceió.
Com
os rostos cobertos por balaclavas e empunhando armas longas, dois
atiradores, ainda não identificados, desembarcaram de um Volkswagen Gol
preto, que parou na área de desembarque. Atingido à queima-roupa,
Gritzbach foi alvo de dois tiros no rosto, quatro no braço direito, um
no tórax, um nas costas, outro na perna esquerda e mais um na lateral do
corpo. Ele morreu na hora.
No
local do crime, a perícia recolheu 21 cartuchos de calibre 7.62, além de
quatro 5.56 e dois .223, todos já deflagrados. Outros cinco projéteis
também foram apreendidos.
Os
investigadores também encontraram uma bolsa com joias que pertencia ao
empresário. Nela, havia 11 anéis, dez pares de brincos, seis pulseiras,
cinco colares e um par de argolas douradas. Os itens tinham certificados
da Vivara, Cartier, Bulgari, Cristovam Joalheria e IBGM Gemologia.
Com
Gritzbach, os policiais ainda apreenderam R$ 620, um iPhone, um
MacBook, uma corrente prateada com uma medalha e um relógio “aparentando
ser da marca Rolex”. A Polícia Civil deve analisar os aparelhos em
busca de pistas sobre os atiradores.
Alvo
de ameaças, o empresário andava com segurança particular, formada por
policiais militares. Na hora do atentado, no entanto, parte da escolta
estava em um posto de gasolina, fora da área do aeroporto, e alegou que o
carro havia quebrado. Quatro agentes foram afastados.
Por: Felipe Resk
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