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sexta-feira, 16 de maio de 2025

SAÚDE

Hospital Maria Lucinda: Pernambuco aplica medicamento de R$ 7 milhões em bebê de seis meses com AME

Infusão do Zolgensma, um dos medicamentos mais caros do mundo - Foto: SES/Divulgação

Procedimento pioneiro pelo SUS foi realizado no Serviço de Referência em Doenças Raras (Rarus)



Pernambuco realizou, no Hospital Maria Lucinda (HML), no bairro de Parnamirim, na Zona Norte do Recife, a primeira infusão do Zolgensma, um dos medicamentos mais caros do mundo -seu custo médio é de R$ 7 milhões- que é totalmente custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Em março, o Ministério da Saúde (MS) incorporou esta terapia gênica para realização de um tratamento inovador em crianças com Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 1 de maneira completamente gratuita. A ação foi fruto de Acordo de Compartilhamento de Risco baseado em desempenho firmado entre a pasta e a empresa fabricante, a Novartis. [Saiba como funciona o acordo no final do texto].

A realização do procedimento, pioneiro no âmbito da saúde pública, tornou-se viável por meio do convênio estabelecido pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), que qualificou o Serviço de Referência em Doenças Raras (Rarus) para a execução de diagnósticos especializados e a oferta de tratamentos multiprofissionais destinados a crianças acometidas por essas condições.

O Zolgensma é uma terapia gênica considerada a mais avançada no tratamento da AME tipo 1, a forma mais grave da patologia.

Administrado em dose única, o medicamento tem potencial de modificar o curso da doença, promovendo ganhos importantes no desenvolvimento motor e respiratório de crianças diagnosticadas precocemente.

A sua administração é indicada para pacientes de até seis meses que não estejam em ventilação mecânica invasiva acima de 16 horas por dia.

A primeira beneficiada com a medicação em Pernambuco é uma menina de seis meses, residente em São Caetano, Agreste do estado.

Aos três meses, a criança foi diagnosticada com a doença no Rarus do Hospital Maria Lucinda. Desde então, a paciente vem sendo acompanhada pela equipe multidisciplinar da unidade.

A secretária estadual de Saúde, Zilda Cavalcanti, destaca a importância dessa aplicação para a saúde pública.

“Esse tratamento significa um avanço na oferta de terapias de alta complexidade por meio do SUS, que, de forma inédita, garante o acesso gratuito a um medicamento com um custo tão elevado e baseado em bons resultados. Mais do que um marco científico, essa conquista representa esperança para outras famílias que enfrentam o mesmo diagnóstico”, defendeu a secretária.

O superintendente do HML, Luiz Alberto Araújo, pontuou a importância do fato para o hospital e para o estado.

“Esse é um momento histórico para a saúde pública do nosso estado e também para o nosso Hospital. Realizar essa aplicação no Maria Lucinda simboliza ainda o reconhecimento de nossa capacidade técnica e estrutural para liderar iniciativas inovadoras e de grande impacto social dentro do SUS”, disse o gestor.

O processo de infusão foi acompanhado por uma equipe multiprofissional do hospital, envolvendo também médicas especialistas do Rarus, que acompanham de perto a evolução da paciente.

A neurologista pediátrica Vanessa Van Der Linden, responsável pelo procedimento, destacou a importância do diagnóstico precoce e do preparo da equipe para viabilizar o procedimento com segurança.

“A infusão é um procedimento rápido, tranquilo e geralmente bem tolerado pelas crianças. Mas o essencial é o diagnóstico precoce: quanto antes a AME for identificada, melhores as chances de resposta ao tratamento. Montamos uma estrutura segura, com avaliação rigorosa, monitoramento laboratorial semanal, uso preventivo de corticoides e suporte multidisciplinar. É um esforço conjunto entre equipe médica, família, reabilitadores e rede de apoio social”, explicou a médica.

Aline da Silva Santos, mãe da bebê, expressa profunda gratidão à equipe do Rarus pelo acolhimento e cuidado desde o início. Ela relata que receber o diagnóstico foi emocionalmente muito difícil, mas que, com fé e perseverança, tem enfrentado cada etapa do tratamento para acompanhar a evolução da filha.

“Minha esperança é ver o que toda mãe sonha: minha filha andando, correndo, brincando, falando, comendo pela boca, respirando normalmente — coisas que a doença impede. Esse é o meu desejo. Minha filha já é um milagre e eu creio que ela vai conseguir tudo isso. E digo para outras mães: não deixem de ter força e fé”, disse.

Condição
A AME é uma condição genética rara e progressiva, herdada dos pais, que compromete a produção de uma proteína fundamental para a manutenção dos neurônios motores — células responsáveis por funções voluntárias básicas do corpo, como respirar, engolir e se movimentar.

A doença varia dos graus 0 a 4 e não tem cura, no entanto, o SUS oferece os tratamentos que conseguem estabilizar a sua progressão.

Após a infusão do Zolgensma, a paciente fica sob supervisão clínica ainda no hospital antes de ser liberada.

“As primeiras horas após a infusão são monitoradas com atenção, principalmente em relação a possíveis reações alérgicas. Depois desse período, com tudo sob controle, a paciente poderá receber alta e continuar o acompanhamento ambulatorial conforme o protocolo, com fisioterapia, fonoaudiologia, avaliação motora, respiratória e cognitiva", detalhou a também neurologista pediátrica Karina Soares, que acompanha a paciente desde o diagnóstico.

Manipulação

O Zolgensma foi importado da Europa pelo Ministério da Saúde e chegou com escolta a Pernambuco, na tarde da última terça-feira (13), à Central de Assistência Farmacêutica do HML, a uma temperatura de -49,5º. O medicamento ficou armazenado em um refrigerador até o momento da aplicação.

A farmacêutica do hospital Andressa Mendonça foi a responsável tanto pelo recebimento quanto pelo preparo da medicação para a paciente.

“O tratamento é peso-dependente, produzido especificamente para a paciente em questão. No dia da infusão, a bebê foi pesada novamente. Se houvesse diferença em relação ao peso informado na solicitação, faríamos o ajuste da dosagem na hora, garantindo a segurança e a eficácia do procedimento”, explicou.

Acordo de Compartilhamento de Risco 
O Acordo de Compartilhamento de Risco foi firmado entre o Ministério da Saúde e a fabricante Novartis para garantir o acesso ao remédio dos pacientes com AME que são atendidos pelo SUS.

Com custo médio de R$ 7 milhões, o medicamento é um dos mais caros do mundo.

O acordo prevê o pagamento da terapia da seguinte forma:
- 40% do preço total, no ato da infusão da terapia;
- 20%, após 24 meses da infusão, se o paciente atingir controle da nuca; 20%, após 36 meses da infusão, se o paciente alcançar controle de tronco (sentar por, no mínimo, 10 segundos sem apoio);
- 20%, após 48 meses da infusão, se houver manutenção dos ganhos motores alcançados;
- Haverá cancelamento das parcelas se houver óbito ou progressão da doença para ventilação mecânica permanente.

Por Portal Folha de Pernambuco

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