Entenda conflito de versões sobre paralisação dos ônibus que afetou passageiros do Grande Recife

Entre as queixas do Sindicato dos Rodoviários está a falta de contabilização correta do tempo de embarque e desembarque dos passageiros
O sistema de transporte coletivo no Grande Recife está sob um
impasse entre os sindicatos que representam motoristas de ônibus e
patrões.
Nesta terça-feira (3), os
rodoviários pararam tudo em duas das mais importantes vias da capital,
as Avenidas Guararapes e Agamenon Magalhães, na área central.
O ato foi uma forma do Sindicato dos Rodoviários reforçar as queixas sobre a "falta de cumprimento de acordos coletivos" formados no encerramento da greve deste ano.
Do
outro lado, a Urbana-PE, que representa os donos das transportadoras,
contesta as afirmações e diz que tudo não "passa de uma questão
política" envolvendo a sucessão no comando do Sindicato dos
Rodoviários.
Diante desse conflito de versões, fica o passageiro do coletivo.
Sem opção para se deslocar, como aconteceu nesta terça, muitos nem sabem
se vão poder contar com o sistema para sair ou voltar para casa.
O problema ficou ainda mais claro com o fechamento de corredores importantes de coletivos.
No
entanto, a falta de ônibus vem afetando a população há alguns dias,
quando os rodoviários passaram a fazer assembleias em portas de garagens
de empresas, atrasando a liberação dos veículos.
Durante
vários dias, que se viu foi o sufoco para sair de casa e ir ao
trabalho, escola ou médico, já que os ônibus só começaram a trafegar
duas ou mais horas depois do horário previsto.
No
ato desta terça, as opiniões dos passageiros que estavam nos coletivos e
precisaram descer por conta da paralisação estavam divididas. Muitos
entendiam a legitimidade do ato da categoria, mas questionavam os
transtornos à população.
“Eu não
sei nem o porquê dessa paralisação, dizem que a empresa está
descumprindo o acordo. Eu acho que estão certos porque eles querem
ganhar o deles”, disse uma passageira que vinha do Janga, de 75 anos.
“Vim
lá de Casa Amarela, cheguei aqui e tudo está parado, uma palhaçada
dessa. Não fui avisado que isso estava acontecendo, se eu soubesse não
teria vindo. Por que não pararam no Terminal? Trazem a gente aqui pro
Centro da cidade e não conseguimos sair. A pessoa com fome, querendo
chegar em casa e uma palhaçada dessa”, reclamou outro passageiro.
“Eles
trabalham por 14 horas por dia, talvez até por opção e a empresa não
paga a hora extra dele. E quem paga, no final, somos nós, eu, minha
filha, o pessoal que quer ir pra casa uma hora dessa”, contou outro.
“Liguei
para o meu pai para que ele viesse me buscar. Acho que o trabalhador
não precisava ser atingido. Cada um pode protestar pelos seus direitos,
mas acabam prejudicando os outros também, que não tem nada a ver”,
comentou uma estudante, de 14 anos, que voltava para casa após as
aulas.
O que dizem os sindicatos
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Foto: Rafael Vieira/DP Foto |
Enquanto
isso, o Sindicato dos Rodoviários e a Urbana-PE trocavam farpas sobre
quem dizia a verdade. Ao longo de novembro, o sindicato passou pelas
garagens das empresas Consórcio Recife, Mobibrasil, Metropolitana,
Caxangá e Borborema, onde ouviu os trabalhadores.
Entre
as queixas estavam a falta de contabilização correta do tempo de
embarque e desembarque dos passageiros, o não pagamento de horas extras
pela fiscalização mecânica dos veículos e ausência de espelho de ponto
para registro formal das jornadas de trabalho.
“O
espelho de ponto é uma coisa básica, que as empresas têm que fornecer.
Inclusive, depois das assembleias que a gente fez, algumas começaram a
fornecer. O trabalhador tem a obrigação de saber se o que está sendo
pago está de acordo com o tempo de trabalho que ele prestou”, frisou
Aldo Lima, presidente do sindicato.
Procurada pela equipe de reportagem ,
a Urbana-PE continua sustentando que não há descumprimento do acordo
feito com os rodoviários e “lamenta que disputas políticas internas do
Sindicato dos Rodoviários, que terá nesta quinta-feira (05) a sua
eleição, continuam trazendo prejuízos e transtornos para a população da
Região Metropolitana do Recife”.
A
corporação alega, ainda, que os mapas sintéticos de apuração das
jornadas estão sendo entregues em conformidade com o acordo coletivo da
categoria e seguindo o modelo validado com a própria diretoria do
Sindicato dos Rodoviários.
Sobre a
nota da empresa, Aldo Lima respondeu que "não é de hoje que a Urbana
usa esse argumento de questões políticas”. “Eles usaram em 2020, 2022,
2023 e, agora, nós estamos em 2024 e, mais uma vez, é por uma questão
política? Quer dizer que a categoria denuncia um fato, denuncia os
desmandos das empresas e é uma questão política. Este argumento da
urbana é apenas para tentar jogar uma camuflagem sobre o que eles fazem
de errado com a categoria”.
Questionado
sobre quais seriam os próximos passos, Aldo Lima disse que “atravessou
uma petição no TRT para tentar uma mediação com as empresas. Esperamos
que essa reunião aconteça o mais rápido possível. A gente só quer que a
empresa cumpra o acordo para que não haja necessidade de uma greve”.
DP
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