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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

MORTES DE TRAFICANTES EM DEBATE NA ALEPE

De "chacina" a "é bala na cara": Deputados da Alepe divergem sobre megaoperação policial no Rio

Deputados estaduais João Paulo (PT), Joel da Harpa (PL) e Dani Portela (PSOL) (Fotos: Roberto Soares/Alepe)

De acordo com a defensoria pública do Rio de Janeiro, o número de mortos já chega a 132, sendo 128 suspeitos e quatro policiais


A megaoperação policial contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, que deixou centenas de mortos nos complexos do Alemão e da Penha na última terça-feira (28) gerou debate entre os deputados estaduais de Pernambuco durante a sessão plenária desta quarta-feira (27) na Assembleia Legislativa (Alepe).

De acordo com a defensoria pública do Rio de Janeiro, o número de mortos já chega a 132, sendo 128 suspeitos e quatro policiais. Os dados oficiais divulgados pelo governo Cláudio Castro (PL) registram 121 óbitos. A operação é a mais letal da história do estado.

O primeiro parlamentar a se pronunciar na tribuna da Alepe sobre a megaoperação foi João Paulo (PT). Ele classificou a ação como “genocídio”, “massacre” e “pena de morte” contra minorias sociais sob o pretexto de combater facções criminosas.

“Isso não é política de segurança, é declaração de guerra contra as comunidades pobres. Política de segurança exige inteligência, preservação do território, planejamento real. Invadir uma comunidade para prender pessoas e terminar com mais de 130 mortos, uma comunidade de milhares de pessoas sitiadas e apavoradas, é um atestado de incompetência e desprezo pela vida do povo”, disparou.

João Paulo afirmou, ainda, que a megaoperação foi “midiática” e seria o “ retrato de uma política fracassada” que não mira nos “verdadeiros líderes” do narcotráfico, que estariam “vivendo em coberturas de luxo, intocados pela elite que manteve o bolsonarismo no poder”. O governador do Rio é do mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Todos somos a favor de uma política de segurança que coíba a ação de criminosos, mas não podemos nos calar diante das forças do estado bombardeando áreas residenciais, lotadas de pessoas, e matando indiscriminadamente”, complementou.

O deputado cobrou que o governador fluminense seja responsabilizado pelas ações, que “não deveriam ter acontecido sem conhecimento do governo federal”.

'É bala na cara'

Após João Paulo, foi a vez do parlamentar Joel da Harpa (PL) opinar sobre a ação policial na capital carioca. Ele criticou a fala do colega petista, afirmando que “o discurso da esquerda fortalece o crime organizado e o tráfico no país” – se referindo também a uma declaração do presidente Lula (PT) de que “traficantes são vítimas dos usuários de drogas”, que já foi retratada pelo próprio chefe do Executivo. Joel chamou Lula de “chefinho da bandidagem” e “ex-detento”.

“Eu fico me perguntando como pode um parlamentar, um cidadão brasileiro, ainda usar uma tribuna para defender a criminalidade dizendo que são ‘pretos, pobres’. A grande maioria da população negra, pobre, que vive nas comunidades, não são bandidos. Agora enfrentar polícia com fuzil, drone e pistola, vão esperar o que? Flores? É bala na cara”, discursou, sobre João Paulo.

Joel da Harpa, que fez carreira na Polícia Militar de Pernambuco, lamentou as mortes dos quatro agentes de segurança, que ele classificou como “heróis que não recuaram, mostraram que o estado é forte, é firme. Infelizmente, mais de 100 perderam a vida. Eu prefiro que perca a vida todos os marginais, mas que fique vivo o cidadão de bem e o policial”.

“Esse fato do Rio de Janeiro serve para acender um alerta. Pernambuco não foge dessa rota. As facções criminosas também estão no Nordeste, e muito fortes. Ficaremos refém do crime se os governos dos estados, sobretudo o federal, não tiverem a coragem de colocar a polícia na rua e enfrentar o bandido de frente. Bandido bom, numa situação como essa, é bandido morto”, declarou.

“Não estou aqui festejando as mortes, porque sou a favor da vida. Mas estou aqui dizendo que quem pegar fuzil, metralhadora, pistola, quem se armar para ir pra frente da polícia e tentar desafiar o estado, tem que levar bala, tem que pagar com a vida”, acrescentou.

O deputado também parabenizou Castro pela megaoperação, além de todos os governadores da direita que se puseram à disposição da ação, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina. Ele criticou a ausência do governo federal na ação, afirmando que Castro teria pedido ajuda “várias vezes”. O próprio governador já esclareceu que não pediu ajuda do governo Lula para a megaoperação.

'Necropolítica'

A terceira deputada estadual a se pronunciar sobre a operação foi Dani Portela (PSOL), que iniciou seu tempo na tribuna declamando um texto sobre a opressão sofrida pelos corpos negros desde os navios negreiros até o que classificou como “chacina” nas comunidades.

“Corpos negros enfileirados, deitados, assassinados em praça pública. Uma cabeça arrancada do corpo, pendurada numa árvore. São 132 corpos, quase todos pretos. São 2500 agentes da polícia, quase todos pretos, postos em confronto por ordens de pouquíssimos homens, quase todos brancos, que do alto dos apartamentos de luxo e gabinetes inacessíveis, decidem quem vive e morre no nosso país”, declarou, se referindo à política de segurança de Cláudio Castro como “necropolítica”.

Portela criticou a gestão fluminense por não “enfrentar causas estruturais da violência”, como não cortar o fornecimento de armas, bloquear a movimentação financeira, ou mirar na cabeça do crime organizado, “frequentemente morando em áreas mais ricas”. Ela também acusou a polícia do Rio de Janeiro de fazer “prisões arbitrárias” de pessoas “sem qualquer relação com o crime organizado”.

A parlamentar destacou a morte de Yago Ravel, durante a operação, que teria tido sua cabeça decapitada e posta entre os troncos de uma árvore. “Esse rapaz não tinha passagem pela polícia ou antecedente criminal. Não há sucesso ou vitória numa operação que mata 132 pessoas”, disse Dani. “Cada corpo tem uma história, uma mãe, uma família, cada corpo gera uma humanidade, seja um corpo supostamente apontado como “bandido”, seja de um policial”, disparou.

Portela também criticou Joel da Harpa por colocar na esquerda a “pecha de defender bandido ou de criticar a polícia”. “Não é sobre polícia versus ladrão. Cláudio Castro é o governador das chacinas, responsável por quatro das cinco operações mais letais em toda a história da região metropolitana. As ações são marcadas pela alta letalidade e ausência da inteligência. Características muito pertinentes aos bolsonaristas”, disse.

Guilherme Anjos

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